Governo muda novamente indicação ao conselho da Petrobrás diante de disputas políticas

Companhia informou nesta quarta-feira que recebeu ofício do governo sobre a substituição de Carlos Eduardo Turchetto Santos por Efrain Pereira da Cruz

(Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil)

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O governo federal alterou mais um nome indicado ao conselho de administração da Petrobras, em meio a disputas políticas por assentos na petroleira, levantando mais temores sobre um possível atraso na mudança da cúpula da petroleira, disse diversas fontes à Reuters.

Em fato relevante, a companhia informou nesta quarta-feira que recebeu ofício do governo sobre a substituição de Carlos Eduardo Turchetto Santos por Efrain Pereira da Cruz, professor e membro do Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (CNDC) junto ao Ministério da Justiça, como candidato ao colegiado.

O fato ocorre após a empresa ter substituído no início do mês a indicação de Wagner Victer por Bruno Moretti, atual secretário especial de Análise Governamental da Presidência da República.

A empresa também adiou a realização de assembleia geral de acionistas, cuja pauta poderá a eleição do conselho, de 13 para 27 de abril.

“Está a maior briga, maior quebra pau por espaços no CA, estão de alguma forma tirar querendo um pouco o peso da influência do ministro (de Minas e Energia, Alexandre Silveira) e buscar nomes mais líderes com a nova gestão”, disse uma das fontes à Reuters.

“Parece que a composição política está a todo vapor”, afirmou uma segunda fonte. “Virou um cabo de guerra entre partidos, mas quem vai ganhar, não sei.”

As mudanças ocorreram após pessoas terem ocorrido ao PT, como o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, tendo criticado publicamente as indicações originais, apontavam que alguns dos nomes estariam ligados ao governo anterior, de Jair Bolsonaro.

“Nomes ligados ao #bolsonarismo, ao mercado financeiro e a favor de privatizações, caso sejam aprovados, no novo CA, poderão impor obstáculos para o cumprimento do programa do governo #Lula, que inclui mudanças na política de preços, sistema de distribuição e fim das #privatizações”, disse Bacelar, em um post recente nas redes sociais.

O ministro Silveira também vem sendo acusado de ter elaborado a lista de indicados de forma unilateral, sem discussão prévia.

Na semana passada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, falou em coletiva de imprensa que a lista de indicados pela União (acionista controlador) conto com diversas indicações de pessoas que compõem a base política do governo, inclusive de Silveira, e que ele mesmo atuou apenas em caráter sugestivo.

“Não me sinto absolutamente afetado por nenhuma dessas escolhas, quem vier será membro do conselho e será glorificado”, disse ele, na ocasião.

Nesse cenário, defensores de mudanças profundas prometidas pelo governo PT em campanha eleitoral têm atrasos para tomadas de decisões importantes.

Prates vem afirmando que precisa que a nova diretoria e o novo conselho tomem posse para que sejam feitas alterações nas políticas de preços de combustíveis e de dividendos.

Atualmente, cinco dos 11 membros do conselho foram indicados pelo governo Bolsonaro. Os demais integrantes que completam o conselho atualmente são quatro representantes de minoritários, a conselheira que representa os funcionários, além de Jean Paul Prates.

Os nomes indicados pela União ainda precisam passar por testes de integridade e elegibilidade dentro do estado, antes de serem levados à votação em assembléia. É preciso ainda que haja um mês entre a convocação e a realização de uma assembleia.

A lista de indicados inclui Pietro Adamo Sampaio Mendes, indicado a presidente; Efrain Pereira da Cruz; Vitor Eduardo de Almeida Saback; Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira; Bruno Moretti; Sérgio Machado Rezende; e Suzana Kahn Ribeiro.

A representante dos funcionários da Petrobras no conselho da companhia, Rosangela Buzanelli, tem afirmado que a alteração no conselho é “urgente” para que tenha início mudanças estratégicas e apoio na gestão da estatal, incluindo revisão da política de preços de combustíveis e dos processos de privatização.

Ela teme que não haja tempo hábil para que as mudanças sejam concluídas na assembleia. “Até dá, mas preciso de muita boa vontade e eficiência”, afirmou à Reuters nesta quarta-feira.

Procurados, o Ministério de Minas e Energia e o Palácio do Planalto não comentaram o assunto imediatamente. A Petrobras disse que as informações que tinham sobre o tema foram divulgadas em comunicado mais cedo.